Primavera feminista, primavera de luta!

No Brasil, desde o início do ano temos acompanhado uma série de medidas que atacam diretamente as parcelas exploradas da população: cortes em verbas para educação, retirada de direitos trabalhistas, redução da maioridade penal, criminalização de professores. E todo esse cenário acontecendo acompanhado de mobilizações de uma direita criminosa  que nas ruas chegou a pedir intervenção militar.

Nada disso ocorreu sem que houvesse resistência, mas apesar dos efeitos desse rolo compressor, não tivemos a capacidade de mobilização que seria esperada. Confesso que este estava sendo um ano bem desgastante e desanimador. Ataque atrás de ataque e não conseguíamos mobilizar e unificar as lutas.

#primeiroassédio

#primeiroassédio

Aí, então, veio outubro. Primeiro parecia que seria só mais um soco no estômago com toda podridão de homens assediando uma menina. Veio então a resposta, em que a campanha #primeiroassedio mostrou que todas já fomos a Valentina, que não estamos sozinhas e que não iremos mais nos calar. E principalmente deu força para ver com clareza que algumas coisas não são normais, acontecimentos corriqueiros, ou invenções das nossas cabeças. Depois disso, foi com alegria que recebemos a notícia que o tema de redação do Enem era a violência contra mulher, tornando a palavra de ordem “machistas não passarão” mais literal do que nunca. E foi nesse florescer de sororidade, nesse momento de reconhecimento da outra como companheira e aliada que sofremos mais um golpe. Foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da câmara dos deputados o projeto de lei 5069/2013 de autoria do atual presidente da câmara Eduardo Cunha (PMDB).

Pilula fica! Cunha sai!

Pilula fica! Cunha sai!

O nome de Cunha já havia há bastante tempo ganhado a atenção da população em geral por causa de escândalos de corrupção. Com sua posição no Congresso ameaçada, Cunha vem agilizando votações de projetos de seus aliados das bancadas evangélica, da bala e ruralista a fim de ganhar apoio. O PL 5069/2013 vem nesse contexto. E sua aprovação vai representar para todas as mulheres retrocessos e menos autonomia sobre seus corpos, quando restringe o acesso à pilula, ao aborto legal e até à informação. O que o PL garante é mais impunidade para agressores e mais mortes para as mulheres.

Mas, quando esse golpe, veio nós não recebemos ele sozinhas, não estávamos mais tão cegas umas às outras. Quando veio, recebemos juntas. E a união não faz só força pessoal não, faz luta também. A resposta foi na rua, e foi muito emocionante. Botões se abrindo em flores.

Primeiro ato no Rio de Janeiro

Primeiro ato no Rio de Janeiro

Aqui no Rio já tivemos dois atos contra o PL 5069/2013 e o tema deste ano da Marcha das Vadias também teve essa pegada. Os atos tiveram uma capacidade de mobilização e atração de setores variados que há muito (alguns diriam que desde junho de 2013) não se via. Esquerda, movimentos sociais e gente nova nessa luta sob a mesma bandeira. Não podemos deixar isso se perder, tão pouco ser um movimento superficial. Temos sim que lutar pra não perder o que temos e conquistar cada vez mais. Mas é preciso que se apresente um projeto alternativo de sociedade, sem isso o que teremos serão sempre vitórias parciais que não atingirão as mulheres como um todo.

Muitas polêmicas ou mal entendidos podem surgir dessa minha afirmação. Deixo claro logo de início que que não acho que a luta de classes vem antes do feminismo, tampouco acho que o contrário seja a verdade. As formas de se tomar consciência das opressões que sofremos é diversa, logo uma mulher pode perceber a exploração que sofre enquanto trabalhadora a partir do seu empoderamento na luta feminista e vice-versa. Fica claro que não podemos pensar a luta de forma unilateral, as opressões se cruzam, se aliam e se alimentam umaFEMINISMO-810x452 das outras. No início de novembro foi apresentado o Mapa da Violência, com dados referentes a homicídios de mulheres no Brasil. Somos todas mulheres, mas o que o relatório com dados de 2003-2013 apresenta é que a taxa de assassinatos de mulheres brancas caiu 9,8%. Já a quantidade de mulheres negras ou pardas assassinadas no mesmo período cresceu 54%. Infelizmente, a pesquisa não conta com os dados sobre a renda dessas mulheres que perderam suas vidas, mas tenho o palpite que as mulheres que mais morrem assassinadas são pobres. São elas, por exemplo, que mais morrem por causa de abortos mal feitos. Esse é o tipo de informação que todo movimento feminista precisa ter em mente na hora de pensar estratégias e melhorias. E é por isso que para uma vitória plena o movimento precisa pensar em projeto de sociedade.

É preciso ter clareza que quem está atacando as mulheres também ataca os trabalhadores, os indígenas e os estudantes. São os mesmos que defendem os interesses de empresas privadas frente à destruição dos nossos rios. São aqueles que prendem e chacinam os jovens negros. São os que fecham escolas, os que tiram nosso direito à cidade, os que perseguem os LGBTs. São os que fingem que nada disso está acontecendo e continuam a novela das 21h. Não perdendo isso de vista continuaremos tomando as ruas, alimentando a luta e nos fortalecendo. Diremos não ao PL 5069/2013, ao Cunha e a todos os conservadores. A primavera traz flores e recomeço, no verão colheremos muitos frutos.

TOD@S AO ATO DIA 25/11 ÀS 17H NA ALERJ!!!!

Crédito: Gabriel Melo

Crédito: Gabriel Melo

Sobre Pollyana Labre

Graduanda em história na Universidade Federal Fluminense.
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