A manifestação de segunda (22/07) poderia ter sido lembrada pelos atos artísticos de mulheres que não temem “confessar seus pecados” em praça pública. Ou então pelo lindo beijaço gay, que em plena JMJ desafiava os pudicos jovens peregrinos e beatas chocadas. Quem sabe também poderíamos lembrá-la pelas palavras de ordem e pela animação dos manifestantes. Mas pouco disso será lembrado. O que fica na memória de quem estava lá é o terror de um ataque que começou do nada. É a imagem de pessoas sendo presas sem um motivo. É medo de ver armas apontadas na nossa direção.
O medo, a raiva e a tristeza se misturam em mim. A cada manifestação que eu vou, ou que acompanho, a sensação de que as coisas não vão bem aumenta. O Estado não se contém mais, ataca a população e quando esta revida é tratada como vilã. A mídia oficial por sua vez corrobora para esse quadro abominável no qual há mais comoção ao ver um dono de loja de grife chorar pelo seu “prejuízo” do que pelo sequestro de um trabalhador realizado pela policia.
Segunda, não diferentemente do que vem sendo normal, a polícia perdeu a linha. O que estava sendo uma manifestação tranquila terminou em mais perseguições de policiais a manifestantes. Mas dessa vez a PM cometeu falhas que espero que não passem em branco. O tal manifestante mascarado que jogou o coquetel molotov responsável por provocar a ação policial já foi identificado como P2 (policial infiltrado). Nesse processo, um policial foi queimado, não sei de seu estado de saúde, mas fica claro que Cabral não está preocupado em perder alguns peões para ganhar o jogo. Outro erro foi a prisão de integrantes do coletivo Mídia Ninja sob acusação de que transmitir ao vivo as manifestações incitaria a desordem. O que a policia não contava é que eles são visto por milhares de pessoas e que eles transmitiram a própria prisão ao vivo. Em pouco tempo a 9ª DP virou foco de mais uma manifestação. Comentários feitos em redes sociais por policiais também provocaram reação direta de seus alvos. A OAB foi acusada de atrapalhar a ação policial. Se impedir que pessoas sejam presas sem acusação e de maneira brutal é atrapalhar então atrapalhar a ação policial é bastante justo e necessário.
A situação está saindo do controle, a mídia oficial está beirando o ridículo, a ação da polícia, que tem por objetivo amedrontar a população a fim de mantê-la longe das ruas, está tendo resultado oposto. Torço para que, apesar do esforço feito para deslegitimar movimento que esta nas ruas, as pessoas não se permitam enganar e que mesmo com medo continuem indo as ruas. Eu posso estar errada, mas para mim medo, tristeza e raiva podem ser bons combustíveis na luta contra a opressão. Amanhã vai ser maior!!
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Muito bom, Polly! Cabe lembrar, ainda, que crescem os relatos de assédio sexual contra as mulheres durante a repressão policial.
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