O INCA escolheu lutar! Quando um depoimento pessoal vai de encontro a um histórico de embates da classe trabalhadora

Texto escrito por Ingrid da Silva Linhares, professora de História graduada pela Universidade Federal Fluminense.

Era o final do mês de setembro do ano de 2013. Entrávamos pela primeira vez naquele local que se tornaria uma espécie de extensão de nossa casa ao longo de dois anos. O motivo: meu pai havia sido diagnosticado com um tumor na região pélvica com grandes chances de estarmos lidando com o momento mais duro de nossas vidas. Precisávamos de ajuda, atenção e respostas e nos foi apresentado como solução o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Começava naquele instante uma jornada valiosa para todos nós. Continuar lendo

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O Campo em Movimento: as lutas rurais brasileiras em 2015

download.jpgAo observarmos as lutas do nosso presente talvez seja comum que tenhamos percepção um tanto distorcida. Se formos a uma biblioteca ou fizermos uma rápida busca na internet sobre a “luta dos trabalhadores” encontraremos uma grande quantidade de informações sobre greves e manifestações urbanas. Quando pesquisamos as grandes revoluções do passado, como a Francesa ou Russa há, mais uma vez, um forte protagonismo do operariado urbano. Trata-se de um protagonismo inquestionável… Porém, incompleto. O que se evidencia pelo fato de apenas muito recentemente as populações das cidades se equilibrarem em relação às dos campos. Continuar lendo

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Primavera feminista, primavera de luta!

No Brasil, desde o início do ano temos acompanhado uma série de medidas que atacam diretamente as parcelas exploradas da população: cortes em verbas para educação, retirada de direitos trabalhistas, redução da maioridade penal, criminalização de professores. E todo esse cenário acontecendo acompanhado de mobilizações de uma direita criminosa  que nas ruas chegou a pedir intervenção militar.

Nada disso ocorreu sem que houvesse resistência, mas apesar dos efeitos desse rolo compressor, não tivemos a capacidade de mobilização que seria esperada. Confesso que este estava sendo um ano bem desgastante e desanimador. Ataque atrás de ataque e não conseguíamos mobilizar e unificar as lutas.

#primeiroassédio

#primeiroassédio

Aí, então, veio outubro. Continuar lendo

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A primavera estudantil nas escolas paulistas: contra a reorganização neoliberal, a ocupação democrática!

Por Fábio Morales
Doutor em História Social pela USP; Docente de Arqueologia e História Antiga na PUC-Campinas; professor há 14 anos.

“Estamos em um Estado democrático, é arbitrário que um grupo tome conta de um prédio público e impeça seu funcionamento” – foram as palavras ditas por uma funcionária da Diretoria de Ensino da Região Centro-Oeste de São Paulo, registradas pela reportagem do jornal O Estado de São Paulo, no dia 10 de novembro de 2015. Quando diz “grupo” que pode impedir o “funcionamento” da escola, a gestora não se refere ao governo Alckmin e sua proposta de fechar – ou, como disse a Folha de São Paulo, usando aspar, “entregar” – 94 escolas estaduais. Não: o “grupo” em questão são cerca de 40 alunos, com média de idade de 16 anos, que ocuparam a EE Fernão Dias Paes – localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo – às 6h da manhã na sexta-feira. Em nome do “Estado Democrático”, a diretoria de ensino acionou a Polícia Militar; cerca de 50 policiais militares entraram em “confronto” com os alunos por volta das 17h, fazendo com que uma adolescente desmaiasse com a inalação do gás de pimenta. Diante da resistência dos estudantes em permanecer na escola, o governo Alckmin, em nome da democracia, decidiu cortar a água do prédio; os policiais militares, também em nome da democracia, cercaram a escola e impediram que água e comida fossem dadas aos ocupantes pela multidão de pais e militantes que se aglomeravam do lado de fora. Duas horas depois, após denúncia nas redes sociais, a água foi restabelecida, e aos poucos a Polícia Militar permitiu, após revista, a entrada de pessoas com água e comida. O ilustre secretário da Educação, o engenheiro com doutorado em trincas em chapas de alumínio e ex-reitor da Unesp por indicação de Geraldo Alckmin, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, num gesto de particular espírito democrático, ofereceu um ônibus para levar os alunos até a Secretária de Educação para negociar sua saída do prédio (sic); demonstrando que política não se aprende por meio de indicações, os alunos recusaram a “oferta”, e resistiram.

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Quando a nossa presença é uma ameaça

Era uma tarde, com o céu claro. Saía da biblioteca da universidade em direção à academia. Para poupar uns minutinhos, peguei um beco, um filete de espaço entre o prédio da biblioteca e o prédio do curso de direito. Este espaço possui saídas da biblioteca, é monitorado por diversas câmeras (como é comum na Inglaterra), eventualmente passam rondas de seguranças (em horários propositadamente aleatórios), e no final dele está a cabine de segurança da universidade. Além disso, a polícia também faz rondas no quarteirão da universidade e por dentro dela; já a vi aparecendo de forma muito rápida em situações que precisavam dela. Por muito rápido quero dizer uns 2 ou 3 minutos. E, no estreito caminho, uma mulher. Que, percebendo minha presença, se vira para verificar. Aperta a bolsa contra si, o passo e não mais olha pra trás.

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Eduardo Cunha, ofensiva conservadora e caminhos para a esquerda

Na última semana, enquanto dezenas de milhares de pessoas, em manifestações em defesa dos direitos das mulheres, levavam o “Fora Cunha!” às ruas de diversas capitais do país – com destaque para o Rio e São Paulo –, a cúpula do PT evitava se comprometer com um decisivo enfrentamento ao facínora que preside a Câmara dos Deputados. Mais do que mera coincidência, essa situação de claro desencontro entre a ação do movimento social progressista e a postura da cúpula do partido serve de mote para refletirmos sobre o processo de constituição histórica da ofensiva conservadora atualmente em curso no país.

Começando pelo próprio Cunha, é preciso salientar que, para além de seu alto nível de articulação e oportunismo políticos, Cunha bebe das três grandes tendências que, sem conformarem ainda uma unidade rigidamente articulada e sem apresentarem um programa inteiramente partilhado – quadro que pode estar em vias de se transformar –, predominam nessa ofensiva conservadora. Em termos econômicos, encampa a ortodoxia neoliberal que impõe sacrifícios aos trabalhadores como forma de solucionar a crise do capitalismo. De religião neopentecostal, empunha as bandeiras do conservadorismo comportamental (muitas das quais relacionadas à normatização da sexualidade) defendidas por muitas dessas igrejas e outros setores sociais. E, por fim, não esconde sua adesão ao reacionarismo belicista, cuja máxima expressão é encarnada pelo lema “bandido bom é bandido morto”. Continuar lendo

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Quando a sororidade nos protege. #primeiroassedio

Era o meu aniversário de 18 anos e esse não foi o meu primeiro assédio. Voltava do pré-vestibular colada na janela do ônibus. Era um hábito, me distraía lendo letreiros e vendo pessoas. Naquele dia eu estava ainda mais avoada, pensando no que aconteceria nas próximas horas e a janela era um lugar onde eu podia sorrir sem ser vista. A viagem corria e então senti que a pessoa que estava ao meu lado no ônibus era um pouco espaçosa, mas isso não me fez olhar pro lado. Recebi uma ligação de um amigo que me esperava em casa para dar os parabéns, e eu seguia sorrindo, distraída na janela. Assim que desliguei o celular uma mulher falou de forma agressiva para eu sair do meu lugar e aquela reação me fez crer que ela ia me bater. Fiz o que ela mandou e recebi com surpresa a notícia de que o senhor que estava ao meu lado se masturbava. Senti uma raiva misturada com autopiedade mas  também experimentei pela primeira vez a solidariedade entre mulheres. #primeiroassedio

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#primeiroassedio: quando a violência vem de quem você confiava

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Uma das coisas que mais me impressiona na minha experiência como mulher é que eu não me lembro exatamente quando tive consciência de que era uma presa. A sensação que tenho é que desde sempre tenho clareza de ser um alvo. Por isso, quando lançada a campanha #primeiroassedio, diante do episódio deplorável no qual a menina Valentina vem sendo objetificada e vítima de todo tipo de nojeira que o patriarcado nos oferece (sem que a gente peça, é bom sempre ressaltar), fiquei muito estarrecida com o fato de que não me lembro quando sofri o meu primeiro assédio. Mas uma das coisas que mais me marcou recentemente é que não só o primeiro assédio pode internalizar na gente o medo. Mas também outros tipos de violência acontecem sem que a gente consiga medir a gravidade do que sofreu.

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Só mais um #primeiroassedio num mar de machismo

Como já dizia a sabedoria popular, “O Brasil não é para os fracos.” No mesmo mês de conscientização dos perigos do câncer de mama e da necessidade da mulher se conhecer para evitar essa doença tão tenebrosa, na mesma semana que o ENEM fez questão de lembrar a todos que gênero é importante sim e que violência contra a mulher é um assunto que deve ser abordado como crime, vimos o projeto retrógrado de criminalização da pílula do dia seguinte e a abertura dos portões do inferno (ou das redes sociais) jogando na cara de todos a força da cultura do estupro, além da questão da pedofilia, que correm soltas por aí, mais perto do que imaginamos.

Diante desse cenário, essa semana, o blog Capitalismo em Desencanto vai contribuir com a luta feminista com relatos e artigos sobre como o machismo está mais próximo de todos nós, em muitas formas, disfarçado em muitos rostos conhecidos e simpáticos. O primeiro relato faz parte da campanha #primeiroassedio, promovido pelo blog Think Olga:

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Desde este final de semana, após fala no congresso da central sindical CSP-Conlutas, Mauro Iasi, militante e liderança do PCB, vem sofrendo grande número de agressões verbais e ameaças por parte de militantes de extrema-direita. A fala de Iasi, de mais de 25 minutos, se encerrou, após longa análise de conjuntura, com uma conclamação ao combate contra a influência ideológica da direita entre os trabalhadores. Para tanto, se utilizou do poema de Bertolt Brecht “Perguntas a um homem bom”, que promete uma “boa” bala ao “bom” cidadão que esconde sua cumplicidade com a violência de classe atrás de sua observância hipócrita dos ritos de normalidade de uma sociedade brutal. O poema de Brecht exprime bem o sentido da fala de Iasi, mas não uma expressão de sua intenção literal. Os ataques conservadores, entretanto, passam logo à promessa de violência muito real. Nós, do Capitalismo em Desencanto, viemos assim a público repudiar inteiramente tais agressões.
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