O marxismo revolucionário e a questão das identidades

Pegando a onda aberta pelo texto “Mas quem lavará? Quem cozinhará?”, que aborda muito bem as relações entre questões de gênero e de classe, é bom aproveitar o espaço para enfrentar este que parece um fantasma para parte da esquerda revolucionária, que são as causas focadas das minorias. Questão recorrente entre grupos de esquerda e pensadores marxistas é a dita fragmentação das lutas sociais na época da virada do milênio. De uma maneira geral, nesse período, foi notável a ascensão de grupos que reivindicam direitos de minorias – mulheres, negros, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros), minorias étnicas, dentre tantos. Diante disso, houve diversas reações de grupos marxistas, muitos tomando parte desse movimento, outros, no entanto, criticando a perda da unidade na luta, ou reivindicando a centralidade da luta de classes frente a essas tão relevantes lutas. Houve mesmo quem visse essa onda como parte do refluxo iniciado com a queda da URSS e demais regimes do bloco socialista, ou mesmo antes, lembrando as incompatibilidades entre os partidos comunistas e os movimentos que vingaram desde maio de 1968 – até mesmo tratar do tema das identidades no meio acadêmico, um tema tão premente nos nossos dias, parecia uma capitulação diante das ditas pressões pós-modernas. Momento síntese dessa confrontação de ideias foi o Fórum Social Mundial (FSM), última grande tentativa de unificar os grupos anti-imperialistas e anticapitalistas em uma luta conjunta; em uma arena onde os mais variados grupos falavam de todas as línguas, levantavam de todas as bandeiras (a maioria, no entanto, pouco disposta a ouvir), pareciam se formar dois blocos distintos, de um lado os ‘modernos’, partidos políticos e movimentos sociais, com as grandes questões, e do outro os ditos ‘pós-modernos’, alguns críticos ao próprio marxismo, com suas questões focadas e mais organizados em organizações não-governamentais (ONG’s, muitas delas com fontes de financiamento no mínimo questionáveis). O FSM, infelizmente, não vingou, estamos agora novamente em meio a uma grave crise do capitalismo mundial sem que haja uma maior organização para aproveitar a oportunidade aberta pela crise, e a tal da fragmentação permanece como um fantasma na esquerda revolucionária.

Tratar desse tema requer uma breve visão panorâmica das lutas sociais, desde a emergência do marxismo em meio às lutas pela radicalização das conquistas das revoluções burguesas, até os dias de hoje. De fato, o movimento da classe trabalhadora, em grande parte organizado em termos marxistas, foi o grande catalizador das lutas no século XX. Tendo-se derrubado o regime semifeudal na Rússia, onde se pretendeu a construção do comunismo através do Estado socialista, e tendo-se quase tomado o poder em outros países europeus, houve ao longo das quatro primeiras décadas do século um grande impulso na formação de partidos comunistas por todo o mundo, e que vieram a formar grandes frentes populares. E, se o capitalismo não caiu – e, se também o comunismo não se construiu – viu-se, ao menos, a formação de um novo mundo onde as aspirações da classe trabalhadora não podiam mais ser ignoradas: ainda que em condições questionáveis, ainda que com muitas limitações, algumas conquistas, como garantias trabalhistas, direito à organização e à greve, sufrágio universal, acesso à cultura e serviços, fizeram deste novo mundo algo que os aristocratas e burgueses do século XIX jamais tolerariam (e até hoje, com algum sucesso, tentam reverter). Contudo, também de fato, muitas aspirações reprimidas surgiram em paralelo às lutas da classe trabalhadora – algumas relacionadas a ela, outras não. A luta pelo voto e igualdade de direitos às mulheres no Ocidente, pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos, todo o movimento de independência das colônias africanas e asiáticas, e mais recentemente a luta pelo direito à diversidade de gênero e orientação sexual, a luta dos povos originários na América Latina, e mesmo a luta contra a devastação do planeta e por mudanças nos padrões de alimentação, são exemplos das muitas lutas que cresceram ao longo do século, não vinculadas ao movimento comunista internacional. E uma característica desses movimentos, em oposição à visão quase que estritamente dualista da identidade comum de trabalhadores versus proprietários, foi a formação das infindas identidades: de gênero, de ‘raça’, de orientação sexual, de ter esta ou aquela origem étnica, de ser vegetariano, enfim, uma real infinidade de identidades. Identidades essas que, se por um lado, parecem convenientes ao próprio capitalismo, que soube lucrar até mesmo com elas, criando mais e mais nichos de mercado para as tantas ‘tribos’ do festejado multiculturalismo, por outro lado, carregam, todas elas, algum questionamento ao sistema dominante justamente por terem se formado a partir de aspirações reprimidas, e, portanto, não podem ser simplesmente ignoradas pelos movimentos anticapitalistas como se fossem meros ‘desvios pós-modernos’. Ainda mais nos dias de hoje, onde uma pretensa onda reacionária alimentada pela crise econômica faz reemergir posições xenófobas nos países desenvolvidos, assim como, no Brasil, vemos as reações machistas, racistas e homofóbicas tão singularmente sintetizadas na figura do pastor deputado Marco Feliciano ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, arregimentando tantos seguidores.

É bem verdade que ‘identidades’ são, no fundo, ideias, e que para uma perspectiva materialista essas ideias podem a princípio ser tomadas como apenas mais um elemento da ideologia dominante; identidades nacionais, regionais, por exemplo, ou mesmo de escolas de samba e de times de futebol, se levadas a extremos, podem desviar as atenções das reais divisões nas nossas sociedades e, pelo contrário, se tornarem alguma forma de ‘identidade de elite’. Afinal, no fundo mesmo, somos todos humanos, mas nossa humanidade está partilhada entre os poucos que têm e os muitos que não têm, essa seria a mais fundamental forma de analisar a nossa sociedade. No entanto, sobre as identidades de que se trata aqui, de autoafirmação, de resistência, não poderia estar mais errado aquele que as acusa de desvio. Ainda mais para quem, como marxista, não compartilha de um materialismo simplório que vincula ideias diretamente à estrutura social. Ora, não foi importante para a luta da classe trabalhadora se ver como classe? Se identificar como um grupo de fato, que se tornava muito majoritário por sinal, mas muito minoritário em termos de condições de ser, de viver e de poder? Pois assim também surgiram essas identidades, como forma de autoafirmação e resistência. Aliás, talvez mais importante do que analisar as identidades per se seja mais significativo analisar como e porque essas identidades surgiram, como e porque as pessoas passaram se identificar dessa maneira, tão diversa, mas baseada em uma mesma forma de adversidade em suas vidas: a opressão, seja ela de classe, de gênero, de raça, de orientação sexual, de etnia etc. Ou seja, as cotidianas pressões dos grupos dominantes para limitar, para negar, senão exterminar, as nossas potencialidades de sermos plenamente humanos.

Esse aspecto de negação, por sinal, pode ser tomado como uma das origens desse processo de identificação de resistência. As identidades, por suposto, não surgem do nada, e muito menos tiveram sempre a forma atual. Tomando o caso da identidade negra: o Brasil e as Américas não eram divididos entre brancos e negros, não havia a identificação como negro, pois os povos escravizados trazidos da África, bem como os povos originários, tinham outras e distintas identidades; a real divisão, no entanto, era entre brancos e não-brancos, onde se juntavam todos os não-europeus. A esse grupo, muitos nomes foram dados, de modo pejorativo, e negro era um deles, de modo muito conveniente, por sinal, com a ideologia de bem, pureza, divindade associada à cor branca (que, definitivamente, não é cor de pele de povo nenhum). A mulher, por seu turno, era não-homem – sendo Homem o termo que usualmente se refere à espécie inteira – era não­-máscula, a quem foram e ainda são negados os mais básicos direitos, a quem foi imposta posição menor na assimétrica parceria do casamento e mesmo da sociedade. Não-homens também eram aqueles que não condiziam com a condição de dominantes, que não tomavam mulheres como esposas, pelo contrário, eram não­-heterossexuais, não-normais, a quem foram e ainda são dados nomes mais ou menos pejorativos – dentre eles o termo gay, inicialmente associado a imoralidade sexual de diversas formas (e não é de surpreender que a rejeição social à homoafetividade feminina não tenha sido tão intensa a princípio, e talvez possa ser associada tanto ao machismo quanto à homofobia). A emergência dessas identidades, que surgiu em lutas diretas contra a opressão, de uma forma ou de outra, é, no fundo, uma luta contra todas essas negações, é, assim, uma forma de autoafirmação. E não deixa de ser interessante que se tenham tomado, nesses três específicos casos, termos considerados menores ou pejorativos, como mulher (ou feminismo), negro e gay, como marcos de uma ressignificação.

Assim, a luta desses grupos oprimidos se deu através da sua própria autoafirmação, pelo resgate (ou reinvenção) da cultura afrodescendente, pela libertação do corpo da mulher de padrões e mesmo da legislação, do orgulho (em oposição à vergonha) das relações homoafetivas, e assim por diante. Até porque, por mais surpreendente que seja, é muito comum que pessoas oprimidas corroborem a própria opressão que sofrem, como mulheres machistas, pessoas negras racistas, gays e lésbicas homofóbicas… A identificação com o próximo, com quem sofre a mesma opressão é, sem dúvida, uma forma de começar a superar esse autoflagelo, e de estimular a organização e a própria luta; essas identidades, portanto, não são, de forma alguma, desvios de atenções da divisão de classes – inclusive devem ser encaradas em paralelo à divisão de classes, ou seja, nesses três casos, como machismo, racismo e homofobia se dão nas diferentes classes, assim como são incorporadas à opressão de classes, como formas de potencializar a própria exploração econômica, como o pagamento de salários mais baixos para negros e mulheres, ou no caso do fascismo, ao se jogar trabalhadores cristãos contra judeus.

Agora, a história dessas lutas não deve parar na autoafirmação de suas identidades. Até mesmo porque, nenhuma identidade, qualquer que seja, está imune a se tornar cega para as outras, ou de criar hierarquias internas. Assim, existe o gay que se acha melhor porque não é ‘afeminado’, ou por ter o corpo mais sarado, ou a mulher que se acha melhor porque não é ‘promíscua’, não tira a roupa em protesto. Isso sem falar nas discriminações entre identidades, o negro machista, a mulher homofóbica, o gay rico que discrimina o pobre. Exemplo maior disso é ver o movimento Femen Brazil recentemente publicar uma homenagem a Margaret Thatcher simplesmente por ser mulher, ignorando suas posições reacionárias e seu triste papel na história recente. Os riscos do isolamento das lutas são justamente as incoerências nos discursos contra a opressão, como o caso dos ativistas gays que defendem o ‘mercado rosa’, ou seja, o poder do dinheiro de gays como forma de conquistar espaço na sociedade, ignorando tanto o risco da formação dos guetos como a posição dos gays pobres. Esses riscos sempre nos rondam, e não são de hoje, haja vista o caso da Frente Negra Brasileira, da década de 1930, com evidente inspiração fascista, que por aspirações legítimas, acabava legitimando toda a rede de opressões articuladas em torno do fascismo.

Pelo contrário, a hora é justamente de unir forças, e essas identidades todas devem buscar reconhecer entre si aquilo que as identifica, que é a luta contra as opressões que sofreram, contra a negação original. Não que isso seja simples, ou sem conflito entre essas bandeiras; afinal, as crises na esquerda que brotaram nas décadas finais do século passado não podem também ser simplesmente escamoteadas como desvios em favor de uma reunificação, deve-se reconhecê-las como um desafio ao universalismo que iluminou o pensamento e ação marxistas, e que evidenciou alguns de seus limites. A unificação das bandeiras deve ser além de um discurso, deve-se praticá-la, por exemplo, dentro de nossos movimentos, perceber quando nos partidos se age de modo homofóbico, quando nas ONG’s se ignora a influência do capitalismo na base de seu financiamento, quando os sindicatos estão centrados exclusivamente nas questões econômicas de sua categoria, quando o movimento do funk é machista, e assim por diante. E isso deve nos fortalecer, e não dividir, pois não deve ser feito de modo acusativo, mas sim educativo, deve mostrar para quem luta contra uma específica opressão que existem outras causas, às vezes muito mais perto do que se imagina – atire a primeira pedra quem nunca teve um pensamento preconceituoso, o problema maior não é esse, é ficar no preconceito depois de percebê-lo. Ademais, também não se deve pretender uma coerência absoluta, estar certo em todas as causas, que é no fundo outra forma de buscar uma unificação total das bandeiras, e que parece recair no problema da centralidade, do universalismo; o importante é a busca da coerência em cada situação, afinal é muito pretensioso acreditar que se está absolutamente coerente em termos revolucionários, inclusive neste próprio texto. A superação dos limites do universalismo, por outro lado, também não é simplesmente negá-lo, devemos pensar dialeticamente em termos de nossa diversidade & unidade como humanos. Assim, a superação não deve estar na acepção ingênua (e meio angustiante) de que nossa humanidade seja um conjunto de aspirações reprimidas buscando afirmação. Cada pessoa ou grupo que sofre alguma opressão tem na sua vivência muitas outras dimensões para além da identidade em questão. Talvez, ao contrário, a exemplo das posturas de Marco Feliciano, a desumanidade, o discurso de ódio, consegue sem nenhuma dificuldade apontar suas armas para todos os lados no afã de justificar alguma pretensa superioridade. Que façamos o exato inverso, respondendo a toda negação de nossas potencialidades com a união de nossas forças. Usando o próprio jargão marxista, por fim, a luta não termina com a afirmação de nossas múltiplas bandeiras – passo necessário, mas não suficiente. A luta de todas e todos nós só terá fim com a negação da negação, que seja um lema, contra a ideia de que uns são por natureza, por nascimento, por cor de pele, por opção de vida, por origem social melhores do que outros. E que, juntos, depois de décadas de lutas isoladas, unamos nossas forças contra toda forma de opressão.

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15 respostas para O marxismo revolucionário e a questão das identidades

  1. Wenceslau T. Coral disse:

    Olá, gostei muito do seu texto!
    Gostaria de saber quais as referências que utilizou para a reflexão em questão. É tema de meu interesse para a pós e se tudo der certo, pretendo trabalhar com a linha marxista no mestrado de literatura abordando de forma crítica essa questão das identidades.
    Desde já, grato pela atençao!
    Sucesso!

    • lucashippolito disse:

      Oi, Wenceslau,
      Fico feliz que essas reflexões ajudem no melhor desenvolvimento deste tema, boa sorte no mestrado. Eu, particularmente, não estudo estas questões, apesar de serem, no meu ver, fundamentais para o próprio marxismo. Sobre referências, para o panorama maior das lutas ao longo do século XX, acho que o Eric Hobsbawm ainda seja uma boa, ao menos em termos de uma visão de conjunto, e mesmo no seu relato de como vivenciou o estranhamento dos comunistas com os movimentos de 1968 em diante. Agora, sobre o Fórum Social Mundial, sobre o debate entre ‘modernos’ e ‘pós-modernos’, falei muito a partir de minhas próprias vivências e reflexões, pois estive em diversos momentos vendo este embate acontecer, fosse no FSM, fosse no movimento estudantil e social aqui no Rio de Janeiro. Escrevi mais no sentido de levantar novamente o debate, mas tentando apontar para outras soluções, que eu mesmo ainda não vejo tão claras. Assim, me inspirei na própria leitura de Marx, de debates em grupos de estudo sobre o Capital e sobre a dialética, para pensar essa dualidade na esquerda, entre questão de classes (o universalismo) e as questões das minorias (o pluralismo). E se liga, que no blog estão saindo novos textos sobre esse tema, como o da Juliana, que podem te ajudar também, mais em termos de referências específicas para seus estudos.
      Eu que sou grato pela sua atenção, muito sucesso!

      • Wenceslau T. Coral disse:

        Muito obrigado pela resposta! Eu também tenho alguma discussão sobre o tema, mas sem uma base “mais acadêmica” que eu possa utilizar.
        E eu li todos os textos que saíram no Dossiê Identidade.

    • Juliana Lessa disse:

      Cara, tem um livro bem legal organizado pela Ellen Wood e pelo John Bellamy Foster – “Em defesa da História: Marxismo e Pós-modernismo” que faz uma discussão bem interessante sobre o surgimento do pós-modernismo. Dentro desse livro tem um artigo do Kenan Malik (“O espelho da raça: o pós-modernismo e a louvação da diferença”) que pode te servir melhor. Tem também o artigo do Hobsbawm (“Pós-modernismo na floresta”), que tá naquele livro “Sobre História” e que também faz esse debate. Agora, tem, também, o Stuart Hall, que é um cara jamaicano, que teve muito contato com o marxismo inglês, mas que tem um viés mais elogioso em relação ao multiculturalismo forjado nas relações da globalização capitalista. Eu acho o Hall bastante esclarecedor (eu, pelo menos, fiquei muito mais sensível para questão das identidades depois de ler o livro dele – que se chama, aliás, “Da Diáspora”), mas tenho algumas críticas quanto a isso. Meu texto, aliás, foi feito com base numa crítica a esse livro do Hall.

      Espero ter ajudado.

    • Juliana Lessa disse:

      Se você quiser uma discussão sobre teoria marxista da cultura (não mecanicista), tem outros autores que fazem isso melhor.

      • Wenceslau T. Coral disse:

        Li seu texto também, e achei bem esclarecedor, inclusive irei atrás de algumas referências que citou nele. Além disso estou conversando com pessoas de outras áreas (fora da letras) justamente para fugir dessa armadilha mecanicista que só atravancou o marxismo ao longo dos anos, contribuindo inclusive com a desilusão a partir dos anos 70 e ascensão desses movimentos identitários. A menos que eu esteja falando alguma ‘besteira’.
        Sobre o livro do Stuart Hall, só li o “Identidades culturais na pós-modernidade” dele. “Da Diáspora” eu nunca havia recebido uma indicação para lê-lo.
        Muito obrigado pelos comentários e dicas!
        Continuem com o bom trabalho com o blog e, claro, que venham mais textos para o Dossiê.
        Abraços!

  2. Seshoumaru disse:

    Eu não sei que fontes o autor utilizou. Mas creio Fredric Jameson e Alain Badiou são duas fontes marxistas bastante profundas para analisar o problema da pluralidade e sua relação com o mercado capitalista. “Pós-modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio”, do primeiro, é um livros marxistas mais fascinantes sobre as dificuldades da cultura utópica-universalista no mundo hodierno e, de Badiou, todos o seus esforço são no sentido de uma ontologia universalista. Para um exemplo rápido: http://estudosbadiouianos.files.wordpress.com/2012/12/badiou-oito-teses-sobre-o-universal.pdf

  3. Pingback: A necessária liberdade para as identidades minoritárias – debatendo o Multiculturalismo | Capitalismo em desencanto

  4. Wesley Carvalho disse:

    Lembrei agora que houve um pequeno debate na internet sobre essa questão do universalismo envolvendo Safatle, Ruy Fausto e Idelber Avelar. Vale a pena ler. As referências: http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/10/09/resenha-de-a-esquerda-que-nao-teme-dizer-seu-nome-de-vladimir-safatle/
    http://revistacult.uol.com.br/home/2012/11/vladimir-safatle-rebate-critica-de-ruy-fausto/

    • Ivan Dias Martins disse:

      Wesley, demorei um pouco a ler a resenha do Idelber Avelar. Não gostei dela, não. Principalmente porque a crítica que ela faz à defesa do Safatle de uma indiferença às indiferenças é extremamente acrítica. É toda no plano moral, subjetivo, e ainda é condescendente. Esse trecho é sintomático:

      “Em outras palavras, e em bom português: a esquerda paulista precisa visitar o Xingu. A esquerda uspiana precisa considerar, a sério, a possibilidade de que as críticas a Hegel, Marx e Adorno não vêm somente de pessoas que “não entenderam” suas obras.”

      Ou seja, se há uma crítica a uma orientação política multiculturalista, ela se deve à falta de experiência multicultural do crítico, ou à sua falta de sensibilidade ou interesse em reconhecer essas demandas de grupos externos ao seu convívio, ou, pior, à sua falta de criticidade básica em relação ao que criticam. Porque, se o que explica que os uspianos defendam a indiferença é que eles são indiferentes, se o que explica que eles defendam que a filosofia hegeliana da história deve ser melhor interpretada é não terem considerado que ela pode ter sido criticada mesmo por quem a entendeu corretamente, então não se trata de fato de pensadores no caso, muito menos de pensadores críticos, o que deixa em dúvida do porquê tratar eles como pensadores de esquerda.

      O fundamento do Idelber parece ser aquele mais subjetivo e tosco: que todo homem, branco, heterossexual, é suspeito de etnocentrismo, machismo e homofobia, e que todo homem branco heterossexual decente (“de esquerda”) deve tomar como ponto de honra levantar essa dúvida a si mesmo em relação a todo pensamento que tiver. O problema com essa postura é que ela autoriza que se suspeite que todo pensamento que possa parecer confirmar o pressuposto do racismo, etc., seja fruto de uma falha no teste de autodetecção. E com isso se pode criticar um pensamento só com base no seu presumido pressuposto sócio-psicológico.

      Me parece que a crítica do Safatle indice justamente nisto: Que por trás de uma postura supostamente crítica (crítica porque se põe em dúvida, crítica se põe na posição de aceitar aquilo que é diferente de si mesmo) há um bloqueio do trabalho de criticar. Claro que essa ideia não é nova, claro que ela é levantada pela direita. Mas a indiferença passa também por aí: É o argumento que precisa ser aceito ou refutado, em última instância. É preciso descer até o argumento, abstraí-lo.

      Nada mais dogmático do que presumir que toda rejeição é fruto de uma insensibilidade. Pelo contrário, é preciso insistir que não há nada de inerentemente crítico em aceitar uma demanda externa por reconhecimento, mas que, pelo contrário, só existe crítica como rejeição potencial dessas demandas.

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  7. Cleber disse:

    Cara, legal o seu texto… pretendo ler com um pouco mais de atenção, mas tenho uma pergunta: A Frente Negra apresentava inúmeras contradições, a mais gritante e conhecida era a adesão de alguns membros às idéias monarquistas ( o que é possível discutir, visto que entendiam a república como geradora de mais problemas para o povo preto do que o império). Devemos entendê-la e critica-la pelo que foi.
    Confesso que desconheço qualquer filiação da Frente ao facismo. A história nos conta que vários de seus membros foram torturados e assim que o bonapartismo se solidifica em 37, a frente foi fechada.
    Abraço.

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